Uma análise preliminar buscou quantificar aquilo que as imagens da devastação no Rio Grande do Sul já indicavam: as enchentes, a chuva extrema e os deslizamentos podem ter espalhado mais de 46,7 milhões de toneladas de entulho por municípios gaúchos. Com base em imagens de satélite e levantamentos de dados, o estudo também identificou que cerca de 400 mil estruturas construídas foram inundadas no Estado por causa do extremo climático até 6 de maio. As inundações persistiram por mais tempo em grande parte do Estado.
Parte das cidades afetadas segue parcialmente debaixo dágua até hoje, especialmente na região metropolitana – inclusive em Porto Alegre, onde fortes chuvas devem causar uma nova elevação do Lago Guaíba – e na parte sul do Estado – na qual é esperada uma elevação da Lagoa dos Patos nos próximos dias. Bombas emprestadas por outros Estados têm sido utilizadas para reduzir o acúmulo de água. A estimativa foi realizada por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com a empresa Mox Debris.
Entre os dados considerados, estão a profundidade e velocidade do avanço das enchentes. Além disso, informações sobre a altura estimada das construções e dados sobre a renda média do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) basearam a simulação do que pode ter sido destruído e, portanto, virou detrito de construção civil. Dessa forma, os pesquisadores chegaram a uma média de 0,07 a 1,2 tonelada de resíduo sólido por metro quadrado. As zonas com maior geração de entulho envolvem áreas industriais, enquanto as de menor potencial são de casas de baixa renda. O estudo envolve basicamente resíduos de construção civil. Desse modo, não considera vegetação, sedimentos e outros materiais igualmente atingidos ou arrastados pelas águas.
Estimou-se que 19 milhões de toneladas de imóveis destruídos e 5 milhões de toneladas de equipamentos industriais e móveis estão evidentemente impactados. Já o restante seria constatado por meio de avaliações estruturais. Além disso, do total de 400 mil estruturas impactadas, cerca de 44,6 mil teriam sido destruídas ou gravemente danificadas ao serem atingidas pelas águas, enquanto 170,2 mil teriam sofrido danos estruturais graves pelo tempo de exposição à inundação. As demais tiveram impactos de diferentes intensidades. Também foram identificadas as sub bacias com possivelmente maior geração de resíduos sólidos, as quais envolvem as duas áreas mais impactadas pelas enchentes no Estado.
As primeiras colocadas são da região da metropolitana de Porto Alegre (cidades banhadas pelo Rio Gravataí, Rio dos Sinos e Lago Guaíba) e da chamada “Região dos Vales” (municípios ao longo do Rio Taquari, Rio Caí, Rio Pardo e Rio Jacuí). “Esta análise preliminar ainda não foi validada no terreno e é apropriada para o planeamento geral das respostas operacionais aos resíduos e ações humanitárias relacionadas no estado”, destaca material veiculado pelos pesquisadores. Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas foram afetadas em 467 dos 497 municípios gaúchos.
Mais de 581,6 mil pessoas estão desalojadas – morando “de favor”, como mostrou o Estadão – e outras 68,3 mil em abrigos. Ao todo, 162 óbitos estavam confirmados até a tarde de quarta-feira, 22. Diante do alto volume evidente, pesquisadores têm debatido sobre a destinação de tanto entulho. Essa discussão considera que somente uma parte do material poderá ser recuperado, consertado ou reciclado, enquanto o restante precisará de uma destinação adequada e de menor impacto ambiental. Órgãos de Saúde têm alertado a população para utilizar equipamentos de proteção antes de manusear qualquer item ou superfície que teve contato direto com a enchente. No Estado, foram confirmadas ao menos duas mortes por leptospirose em pessoas que tiveram contato com a água contaminada.
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e o Núcleo de Estudos em Saneamento Ambiental (Nesa) da UFRGS divulgaram algumas orientações para a gestão de detritos oriundos da enchente. “O manejo adequado é fundamental para evitar que esses resíduos fiquem expostos em locais inadequados, o que poderia atrair vetores transmissores de doenças e complicar ainda mais a situação para a população e o meio ambiente”, explicou em publicação. Uma das principais orientações é a de priorizar a remoção e demolição de estruturas que coloquem pessoas em risco. Além disso, destaca-se que eletrônicos sem conserto, detritos industriais e resíduos de saúde devam ser separados dos demais e destinados a descarte especializado.
Quase três semanas após o início do extremo climático, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), do Governo do Estado, lançou uma cartilha com orientações na sexta-feira (17/5). A primeira recomendação é a remoção de animais mortos, com a destinação para cemitérios, crematórios ou valas abertas dentro de critérios técnicos informados. Novo Hamburgo, Porto Alegre e outras cidades têm orientado a população para colocar todos os resíduos sólidos a serem descartados nas calçadas. As informações divulgadas são de que serão recolhidos por caminhões. Na capital gaúcha, a prefeitura contratou (por seis meses e R$ 19,7 milhões) um aterro de inertes para receber parte dos resíduos sólidos.
O espaço fica em Gravataí, na região metropolitana. Segundo a prefeitura, o aterro poderá receber de 77 mil a 180 mil toneladas de detritos. Será voltado a resíduos que não se decompõem, os quais poderão ser em parte reciclados ou reaproveitados. Carros de som de Porto Alegre têm orientado a população a colocar os detritos nas calçadas. Bairros como o Menino Deus, o Centro Histórico e a Cidade Baixa viraram quase lixões a céu aberto com tanto material descartado. Um balanço parcial aponta que 4,1 mil resíduos das enchentes foram retirados pelo Município das ruas até a terça-feira, 21. A enchente segue em nível elevado em parte da cidade, especialmente em bairros de baixa renda da zona norte, como Sarandi, Humaitá e Vila Farrapos. Também não há previsão de quando a população das ilhas poderá voltar para casa. (Agência Estado)