Brasil precisa de mais políticas públicas para garantir emprego a jovens
Por. Nayara Bazzoli. Não existe um caminho único a ser seguido quando se fala em incluir jovens em larga escala no mercado de trabalho. É preciso desenhar e implementar estratégias que sejam diversificadas, integrando poder público, privado e sociedade civil em todos os níveis. Não tem solução fácil nem óbvia. Se o jovem estiver em situação de vulnerabilidade social, o problema se agrava.
O Brasil é o segundo país com maior proporção de jovens (18 a 24 anos) que não estudam e não trabalham, ficando atrás apenas da África do Sul. Este público representa cerca de 24% da população brasileira, com prevalência de pretos e pardos – que são 60% das juventudes, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Esses jovens, em sua maioria, enfrentam diversos obstáculos que os afastam das oportunidades formais de trabalho e estudo, as chamadas injustiças estruturais. Ou seja, processo de desigualdades sociais históricas que atingem pessoas e grupos e os mantêm em condições menos favoráveis em relação aos outros. Dentre as principais injustiças estão o racismo estrutural e os desafios de nascer e/ou viver em comunidades periféricas urbanas. Isto significa que a realidade diz muito mais sobre falta de acesso do que sobre a falta de vontade das juventudes.
O programa Jovem Aprendiz é uma das iniciativas que pode fazer a diferença na realidade de jovens que estão nessa condição por falta de apoio, porém, ainda é pouco, uma vez que essa política pública não tem chegado aos jovens das periferias urbanas das grandes cidades. É importante lembrar que não é preciso comprovar renda para se candidatar a uma oportunidade de jovem aprendiz. Qualquer jovem, de 14 a 24 anos, pode acessar esse direito.
Apesar de 60,4% de jovens de 15 a 24 anos terem interesse em ser jovens aprendizes, apenas 5,1% trabalham por meio dessa modalidade de contratação. A conclusão é da pesquisa “Percepções e expectativas do jovem-potência sobre a Lei da Aprendizagem”, do movimento Juventudes Potentes, iniciativa articulada pela ONG United Way Brasil (UWB). O estudo ouviu 600 jovens de 15 a 29 anos das regiões sul e leste da cidade de São Paulo. Se a principal política pública de aprendizagem profissional não está chegando aos jovens das periferias, algumas lacunas precisam ser preenchidas.
O que se observa em grandes centros urbanos rodeados de periferias é um cenário de considerável insegurança entre os jovens por falta de experiência e qualificação profissional. O programa de aprendizagem surge como uma excelente oportunidade de inserção formal para quem está mais precisando, além de contribuir com um legado de desenvolvimento e experiência.
Porém, para que isto aconteça, a política pública precisa transpor barreiras e chegar a quem mais precisa, as juventudes de baixa renda. A rede de ensino público formal é uma potencial aliada estratégica na disseminação do programa para o primeiro emprego.
Além da amplificação do acesso, que é uma preocupação primária, os jovens periféricos ouvidos pela pesquisa também apontaram outras recomendações no que diz respeito à Lei da Aprendizagem tal qual ela existe hoje: a necessidade de atualização e aprimoramento da formação teórica oferecida por organizações certificadoras; aprimoramento na alocação, acompanhamento e supervisão dos jovens aprendizes no cotidiano das empresas; estabelecimento de um plano de desenvolvimento, com incentivos e feedbacks; e a adoção de ações para aumento do senso de pertencimento e permanência de jovens talentos nas corporações. Estas são as principais mensagens-chave ao ecossistema de inclusão produtiva.
Que mais políticas públicas possam chegar aonde mais se precisa delas, uma vez que um país onde o acesso só é garantido para alguns, não é um país sustentável para ninguém.
Nayara Bazzoli é gerente do programa Juventudes Potentes da cidade de São Paulo, uma rede global que visa promover a inclusão produtiva de jovens em diversos países. Só no município de São Paulo, já gerou empregabilidade para mais de 7 mil jovens, capacitou mais de 20 mil jovens e conectou cerca de 36 mil jovens a oportunidades econômicas nos últimos quatro anos, por meio de parcerias com empresas, organizações sociais e governo.