Goiânia tem nova fase do Plano de Drenagem para reduzir enchentes
As chuvas intensas que atingiram Goiânia nas últimas semanas expuseram mais uma vez a fragilidade da cidade diante de eventos climáticos extremos. Áreas como a Marginal Botafogo, um dos principais pontos de alagamento, ficaram submersas, deixando veículos ilhados e moradores em situação de risco. A repetição desses episódios a cada nova temporada de chuvas reforça a necessidade urgente de intervenções estruturais para modernizar o sistema de drenagem da capital.
Além dos transtornos no trânsito e os danos materiais, as enchentes colocam vidas em risco. Com os alagamentos cada vez mais frequentes, as atenções se voltam para o Plano Diretor de Drenagem Urbana de Goiânia, coordenado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que está em sua fase final de desenvolvimento. A nova fase do plano deve ser apresentada nas próximas semanas, trazendo soluções a médio e longo prazo para modernizar a drenagem da cidade e evitar novas tragédias.
O agravamento desses problemas, no entanto, não é exclusivo de Goiânia. As mudanças climáticas vêm trazendo chuvas mais concentradas e volumosas em várias partes do mundo, e o Brasil não está imune a isso. De acordo com a conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), Maria Ester de Souza, “a técnica de engenharia urbana que estrutura a drenagem nas cidades, especialmente no Brasil, é ultrapassada. Estamos falando de métodos que remontam ao início do século 20 e que não acompanharam as mudanças climáticas e as novas demandas urbanas”.
Com a entrega do novo prognóstico do Plano Diretor de Drenagem Urbana prevista para a próxima semana, a expectativa é de que o plano traga soluções que ajudem Goiânia a se preparar melhor para os desafios futuros. No entanto, o coordenador do Plano de Drenagem e professor da UFG Klebber Formiga ressalta que essas mudanças não acontecerão do dia para a noite. “Estamos falando de um processo contínuo, que exigirá esforço conjunto do poder público e da sociedade para ser implementado de maneira eficaz”, diz.
A nova fase do plano também dependerá da próxima gestão municipal, que terá a responsabilidade de dar continuidade às ações propostas e garantir os investimentos necessários para que Goiânia possa, finalmente, ter uma infraestrutura adequada para lidar com as chuvas torrenciais que se intensificam a cada ano.
Impactos imediatos
Além dos riscos diretos à vida, as enchentes trazem consequências graves para a economia e o bem-estar social. Em Goiânia, áreas comerciais e residenciais são frequentemente afetadas, o que gera prejuízos financeiros e transtornos no cotidiano dos cidadãos. “As enxurradas que ocorrem nas principais vias da cidade, como a Marginal Botafogo, são um reflexo da falta de infraestrutura. Carros ilhados, vias interditadas e comércio prejudicado são problemas recorrentes”, observa o professor Formiga.
A conselheira Maria Ester reforça que, para mitigar esses impactos, é preciso uma mudança cultural em relação à drenagem urbana. “Precisamos entender que todos nós temos responsabilidade. As calçadas cimentadas e o descarte inadequado de lixo nas ruas são fatores que agravam o problema. Cada cidadão precisa contribuir para que tenhamos uma cidade mais resiliente”, conclui.
As enchentes em Goiânia não são apenas um problema material. Com o aumento da intensidade das chuvas, o risco para a vida dos moradores que circulam nas áreas mais atingidas cresce significativamente. Um dos incidentes mais críticos ocorreu na Marginal Botafogo, onde veículos ficaram completamente submersos, com motoristas e passageiros precisando ser resgatados.
O impacto econômico também é severo. As enchentes paralisam o comércio, causam danos a estabelecimentos e geram prejuízos para os moradores das áreas mais atingidas. “Todos os anos enfrentamos as mesmas situações, com ruas bloqueadas, carros submersos e prejuízos para a economia local”, lamenta o professor Klebber Formiga, da UFG, coordenador do Plano Diretor de Drenagem.
Formiga também explica que o sistema atual de drenagem da cidade, assim como o de muitas outras cidades brasileiras, está defasado e subdimensionado. “As bocas de lobo e galerias pluviais foram projetadas para volumes de água muito menores. Com o aumento das precipitações, o sistema não consegue absorver toda a água, o que leva aos alagamentos”, explica. A falta de manutenção, com obstruções frequentes nas bocas de lobo por lixo e detritos, agrava ainda mais a situação.
Soluções sustentáveis e urgentes
Maria Ester de Souza, arquiteta e urbanista e conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), enfatiza a necessidade de modernizar as técnicas de drenagem utilizadas em Goiânia, que, segundo ela, estão defasadas. “O sistema de drenagem que utilizamos hoje foi pensado para uma realidade muito diferente. As soluções adotadas são de mais de 100 anos atrás, e não refletem as demandas atuais trazidas pelas mudanças climáticas”, alerta.
Maria Ester sugere medidas a médio e longo prazo, como a criação de bacias de contenção em pontos estratégicos, que ajudam a reter o excesso de água da chuva antes que ela atinja os córregos. Outra solução seria a implementação de jardins de chuva, áreas verdes que facilitam a infiltração da água no solo, e a expansão de calçadas permeáveis. “Essas calçadas, em vez de impermeabilizar o solo com cimento, permitiriam que a água fosse absorvida naturalmente”, explica.
Ela também sugere o uso de poços de infiltração, que poderiam ser implementados tanto em áreas públicas quanto privadas. “Precisamos aumentar as áreas permeáveis da cidade para evitar que grandes volumes de água cheguem tão rapidamente aos córregos, causando transbordamentos”, completa.
Novos desafios, velhas soluções
Além das limitações das técnicas utilizadas, o coordenador do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Goiânia, professor Klebber Formiga, da Universidade Federal de Goiás (UFG), destaca que as bocas de lobo e galerias pluviais da cidade estão com capacidade de escoamento subdimensionada. “O sistema de drenagem de Goiânia foi projetado com valores inferiores aos necessários para as chuvas que enfrentamos hoje. Isso sem contar as obstruções nas bocas de lobo, que comprometem ainda mais a eficiência do sistema”, explica o professor.
Formiga ressalta que o Plano Diretor de Drenagem Urbana de Goiânia, cuja nova fase será apresentada em breve, busca soluções a médio e longo prazo, mas reconhece que o cenário ainda é preocupante. “Estamos prevendo uma redução nos alagamentos recorrentes, mas eventos excepcionais, como chuvas de 100 a 150 anos, ainda representarão desafios difíceis de contornar”, afirma.
Enquanto as soluções estruturais de médio e longo prazo são planejadas e implementadas, as chuvas de verão já se aproximam, trazendo a necessidade de medidas emergenciais. Maria Ester enfatiza que é urgente preparar a cidade para lidar com os impactos imediatos das chuvas fortes que estão por vir. “Precisamos de um plano de evacuação e de monitoramento para as áreas mais vulneráveis. A Defesa Civil precisa estar atenta para deslocar as famílias que vivem próximas aos córregos em caso de emergência”, sugere a arquiteta.
Além disso, ela ressalta a importância de conscientizar a população sobre o impacto de ações cotidianas, como o descarte de lixo nas ruas, que contribui diretamente para a obstrução das bocas de lobo. “Cada cidadão tem responsabilidade no manejo das águas pluviais. As bocas de lobo entupidas e a impermeabilização excessiva do solo pioram as enchentes, e é essencial que a população colabore para minimizar esses problemas”, afirma.
As soluções de médio e longo prazo para os problemas de drenagem de Goiânia passam por uma reformulação no planejamento urbano, focada em aumentar a permeabilidade do solo e criar áreas de absorção de água. Maria Ester de Souza propõe uma série de medidas que incluem a expansão das áreas verdes e a requalificação de espaços urbanos para garantir que a água da chuva seja retida e absorvida naturalmente, evitando que chegue rapidamente aos córregos.
Ela sugere que novos empreendimentos e loteamentos urbanos sejam obrigados a incorporar sistemas de retenção de água em seus projetos, como os já mencionados poços de infiltração e bacias de contenção. “Se aplicarmos essas soluções em todos os novos projetos, podemos reduzir drasticamente a quantidade de água que vai parar nas ruas e, consequentemente, diminuir os alagamentos”, explica.
O Plano de Drenagem Urbana
A nova fase do Plano Diretor de Drenagem, coordenado pela UFG, propõe mudanças significativas na gestão das águas pluviais em Goiânia. Em entrevista, o professor Klebber Formiga explica que o plano está sendo elaborado com base em mapeamentos detalhados das bacias hidrográficas da cidade, além da criação de soluções sustentáveis para o armazenamento e infiltração da água. “Nossa proposta é reduzir o volume de água que chega aos córregos e, com isso, diminuir a probabilidade de transbordamentos”, diz.
O plano, que está sendo discutido com a Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), tem como uma de suas principais metas a criação de áreas de contenção próximas aos córregos e a ampliação da permeabilidade do solo nas áreas urbanas. Segundo Formiga, “nos últimos 30 anos, começamos a implementar processos de infiltração de água como parte do sistema, abandonando a ideia de simplesmente canalizar tudo para os córregos”.
A ideia é que, em vez de direcionar a água das chuvas de maneira rápida para os rios e córregos da cidade, a água seja retida e infiltrada gradualmente, reduzindo a pressão sobre o sistema de drenagem.
1ª fase do Plano de Drenagem
O Plano Diretor de Drenagem Urbana foi estruturado em fases, e a primeira, já em andamento, envolveu o diagnóstico e mapeamento de diversas bacias hidrográficas da cidade. Segundo Klebber Formiga, essa primeira etapa foi crucial para identificar as áreas mais vulneráveis a alagamentos e entender como a água da chuva se comporta em diferentes regiões.
“A primeira fase consistiu na análise das bacias críticas, como a do Botafogo e do Areião, e na criação de prognósticos baseados no comportamento das águas nessas regiões. Agora, a nova fase será focada na execução das intervenções necessárias, baseadas nos dados já levantados”, explica Formiga.
Ele também comenta que a segunda fase do plano, que será divulgada nos próximos dias, incluirá a execução de obras prioritárias nas áreas mais críticas, criando sistemas de retenção de água próximos aos córregos para evitar transbordamentos. “A ideia é que a água seja retida por mais tempo nessas áreas, diminuindo a pressão sobre o sistema de drenagem e evitando que os córregos transbordem”, afirma.
A nova fase do Plano: o que esperar?
Com a segunda fase do Plano de Drenagem Urbana de Goiânia em vias de ser apresentada, a expectativa é que essa etapa traga soluções que possam ser implementadas a curto e médio prazo, com foco nas áreas mais vulneráveis da cidade. Entre as medidas propostas estão a ampliação da capacidade das bocas de lobo, a criação de áreas de retenção de água nas proximidades dos córregos e a execução de obras que aumentem a permeabilidade do solo.
O professor Klebber Formiga ressalta que o plano foi elaborado com base em projeções de crescimento urbano para os próximos 30 anos, e que as intervenções serão feitas por etapas. “Estamos trabalhando com diferentes cenários de crescimento e de mudança climática, para que Goiânia possa se desenvolver de forma sustentável e enfrentar os desafios trazidos pelas chuvas intensas com menos frequência”, diz o professor.
A segunda fase prevê ainda a execução de intervenções nas bacias mapeadas na primeira fase, priorizando áreas que já sofrem com alagamentos recorrentes, como as bacias do Botafogo e do Areião. “A nova fase está focada em diminuir a recorrência desses alagamentos, que acontecem anualmente, e fazer com que eles se tornem menos frequentes e menos graves”, conclui Formiga.
Ações Emergenciais
Enquanto o Plano Diretor de Drenagem busca soluções a médio e longo prazo, medidas emergenciais são necessárias para lidar com as chuvas de verão que se aproximam. Maria Ester enfatiza que, com a chegada de janeiro, é fundamental que a cidade esteja preparada para ações de curto prazo. “Estamos falando de salvar vidas. Já deveríamos ter áreas preparadas para o deslocamento de famílias que vivem próximas aos canais e estão em risco de ter suas casas alagadas”, alerta.
Segundo a arquiteta e urbanista, é urgente a necessidade de um planejamento de evacuação, que inclua desde o aluguel de hotéis até a construção de abrigos temporários para pessoas afetadas por enchentes. A Defesa Civil já tem sistemas de alerta, mas é preciso garantir que as áreas vulneráveis sejam monitoradas de perto e que a população esteja consciente dos riscos.