Goiás tem mais de 200 cidades que falham na gestão de desastres
Segundo um levantamento do jornal A Redação, com base nos dados do Ministério da Integração Nacional, revela que a maioria dos municípios de Goiás apresenta desempenho intermediário ou inicial no Indicador de Capacidade Municipal (ICM). Apenas quatro municípios figuram na classificação mais alta, enquanto 92 encontram-se na pior avaliação.
Os números destacam a vulnerabilidade estrutural das administrações municipais, especialmente em um estado como Goiás, em que grande parte das prefeituras dependem de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e de outras transferências federais e estaduais.
Os problemas vão desde enchentes e deslizamentos até secas severas, e a gestão de riscos é uma necessidade para proteger vidas e prevenir prejuízos econômicos.
Mais de 80% das cidades goianas apresentam sérias dificuldades em atender às demandas de situações emergenciais. Essa realidade é agravada pela dependência de repasses estaduais e federais, o que compromete a agilidade em ações preventivas e emergenciais.
Especialistas apontam que os municípios classificados nas faixas C e D precisam de atenção especial, pois enfrentam limitações como ausência de sistemas de alerta e equipes técnicas despreparadas.
Para um estado que abrange 246 municípios, com realidades tão distintas, o ICM é uma ferramenta importante para orientar investimentos e melhorar a governança pública.
Além disso, a população diretamente afetada por essas fragilidades muitas vezes não possui acesso às informações ou meios para mitigar os riscos em suas comunidades.
O descompasso entre os recursos disponíveis e as demandas locais é um reflexo de um problema estrutural que precisa ser enfrentado com urgência.
A realidade goiana é alarmante: mais de 200 municípios do estado estão nas faixas C e D, o que reflete limitações estruturais graves. Essas cidades enfrentam desafios como ausência de tecnologia, baixa arrecadação e falta de planejamento estratégico para prevenir e responder a emergências.
O especialista em políticas de Defesa Civil Eduardo Brandão explica: “Nos municípios classificados na faixa D, as prefeituras têm dificuldade em atender até mesmo às demandas básicas da população. A falta de sistemas de monitoramento e de equipes treinadas coloca essas cidades em uma situação de alto risco constante.”
Enquanto Cristalina e Silvânia, na faixa A, possuem bons índices de práticas de gestão eficiente, a maioria das cidades goianas carece de sistemas básicos de prevenção. Em muitos casos, não há sequer mapeamento de áreas de risco, o que agrava os impactos em situações de crise.
Na faixa C, cidades como Goiânia e Aparecida de Goiânia possuem maior infraestrutura, mas enfrentam problemas como baixa capacidade de resposta e a ausência de sistemas de alerta integrados. Isso compromete a eficiência na gestão de emergências, especialmente em áreas periféricas e rurais.
A professora de Gestão Ambiental Carla Ribeiro alerta que “as cidades nas faixas intermediárias têm potencial para avançar, mas isso exige investimentos em treinamento de equipes e tecnologia. Sem essas medidas, a vulnerabilidade permanecerá alta, especialmente em regiões que sofrem com eventos climáticos extremos.”
Entre os municípios da faixa D, a falta de planejamento é visível. Caldas Novas, conhecida por seu turismo, enfrenta dificuldades para gerenciar crises hídricas, enquanto Faina, recentemente, ficou sem água devido ao colapso de seu principal rio. Essa realidade compromete não só a economia local, mas também a qualidade de vida da população.
O economista João Batista, especialista em políticas públicas, reforça que “a gestão pública em municípios vulneráveis deve ser pensada como prioridade. As consequências de desastres ambientais são duradouras e afetam diretamente a economia e o desenvolvimento local. Investir em infraestrutura e capacitação é essencial.”
A disparidade entre municípios na mesma região também chama atenção. Enquanto Porangatu, na faixa B, consegue acessar recursos federais, cidades vizinhas na faixa D enfrentam dificuldade até para manter sistemas básicos de gestão. Essa desigualdade reflete a complexidade da gestão pública em Goiás.
Além disso, muitos municípios menores dependem exclusivamente de repasses estaduais para ações emergenciais. Essa situação gera atrasos na implementação de políticas e deixa a população vulnerável a tragédias que poderiam ser evitadas com medidas preventivas.
Por fim, os desafios enfrentados pelos municípios nas faixas C e D são agravados pela falta de integração entre as administrações locais, estaduais e federais. Essa desconexão compromete a coordenação de ações em larga escala, especialmente em crises que afetam múltiplas cidades simultaneamente.
Goiás é um estado afetado por condições climáticas adversas como chuvas intensas e, mais recentemente, secas severas, como a que colapsou o abastecimento de água na cidade de Faina. Essas condições exigem uma gestão eficiente de riscos, mas os números do ICM indicam um cenário preocupante.